Quem sou eu

Minha foto
Niterói, Rio de Janeiro, Brazil
Sou Biólogo e entusiasta na Arte do Bonsai desde 1991. Montei esse blog para compartilhar alguns dos trabalhos que venho desenvolvendo, bem como compartilhar também algumas idéias e assuntos relacionados à arte. Gostaria muito da sua participação. Seja bem vindo!

Seguidores

domingo, 26 de outubro de 2008

A Pintura Chinesa e a Arte do Bonsai: Possíveis Convergências

Apresentação

Não poderia passar em branco, para nós amantes da Arte do Bonsai, uma pessoa que dedicou uma vida aos estudos da cultura chinesa. Dentre os estudiosos da China, há vinte e quatro anos atrás o sinólogo (中國通) brasileiro Riccardo Joppert foi o único que se aprofundou no tema “microcosmo” e que, com muita sabedoria, extraiu informações pertinentes de como a Arte do Bonsai migrou para o Japão. Nos traz principalmente um universo distante, onde toda uma população já se preocupava com o que ele descreveu como: “... o mundo em escala reduzida num vaso de planta...”.
Concedida a publicação digital na íntegra pelo autor logo abaixo, a mesma é inédita para o universo do bonsai. Outras informações sobre o autor acessem:

http://ricardojoppertchinacursos.blogspot.com/










segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Origem dos vasos para bonsai

No início das civilizações, a grande maioria estava de alguma forma desenvolvendo trabalhos em argila, fazendo vasos e outros artefatos que iriam auxiliar nas atividades diárias. Dentro dessa cultura, que estava se iniciando no mundo, os chineses não estavam de fora. Na arte de fazer vasos na China o trabalho mais espetacular registrado até o momento foram os vasos coloridos, que datam de 6000 a 7000 anos atrás. O melhor exemplo desses vasos ocorreu durante a cultura Yangshao [yang-hsiao] [仰韶文化] da Era Neolítica, cerca de 5000 a 3000 anos antes de Cristo, na parte noroeste da China, nas proximidades do Rio Amarelo. Diversos exemplares deles foram encontrados em perfeitas condições para mostrar ao mundo a riqueza da cultura dos Yangshao.


Junto com as cerâmicas coloridas de Yangshao, foram encontradas as cerâmicas de cor preta criadas por outra etnia chinesa, que também são de grande importância para a ciência por terem sido concebidas no neolítico. Elas datam de 5000 a 4500 antes de Cristo e está relacionada à cultura Hemudu, que existiu há aproximadamente uns 7000 anos atrás.
Os Hemudus costumavam pintar nessas cerâmicas plantas, animais e desenhos geométricos. A foto abaixo, mostra um pote oval medindo 11,7 cm comprimento com um javali desenhado, que tem a forma bem parecida com os vasos de bonsai atuais. Diversos tipos de objetos em cerâmica preta foram concebidos neste período, como tigelas, copos, jarros e vasos.

Quase que paralelamente a história das cerâmicas do neolítico surgiram também os artefatos em bronze. Achados arqueológicos sugerem que os chineses começaram a produzir artefatos em bronze no final do neolítico cerca de 2000 a 3000 a.C, nas próximidades do Rio Amarelo na China durante o período da cultura Longshan (龍山文化), quando ainda eram utilizadas ferramentas de pedra.

Estudos indicam, que outros tantos artefatos em bronze foram normalmente utilizados até as dinastias Shang (1723 – 1046 a.C) e Zhou (1034 – 246 a.C) por aristocratas da época na vida quotidiana. Diversos utensílios como pratos, tigelas, panelas, jarros e taças para vinho, recipiente para água e vasos para rituais religiosos fazem parte dos achados arqueológicos.


Abaixo vemos duas imagens retiradas do livro “Chinese pottery of the Han Dinasty” de Bertold Laufer, 1909, que mostram claramente a correlação das formas iniciais dos vasos para bonsai. A imagem a esquerda mostra uma cerâmica retangular da dinastia Han (206 a.C – 220 d.C), com detalhes florais em alto relevo, medindo 18,9 x 13,4 x 7,6 cm. Aparentemente uma imitação do bronze do estilo “fu”, vaso retangular geralmente com quatro pés que existia no início da dinastia Zhou. Ao lado desta, à direita vemos uma outra imagem mostrando uma tigela perfurada e uma vasilha em bronze que datam do mesmo período. Depois das Dinastias de Qin e Han, o emprego de utensílios de ferro, laca e porcelana substituíram as peças de bronze.

A maioria dos utensílios em bronze que foram criados espontaneamente no passado tem afinidade com as formas que vemos nos tempos atuais. Esse fato é devido a toda concepção de design e engenhosidade técnica, onde havia a preocupação de se criar o melhor formato para adequá-los ao uso de que se propunham.

Porém, mais do que qualquer outro material, a cerâmica é uma das manifestações plásticas mais antigas da humanidade. Pode-se dizer que pela sua disponibilidade na natureza e facilidade na criação, veio atender e superar durante muito tempo qualquer outro tipo de material empregado a estes propósitos. E assim, ela tem servido as necessidades e satisfeito os gostos estéticos de todos os segmentos da sociedade em quase todas as culturas na terra.

No entanto, a contribuição chinesa para arte da cerâmica é um fato não contestado. O registro da arte em cerâmica chinesa abrange 45 séculos. Em termos de sua pura produção e simplesmente, inovação técnica, refinamento artístico, diversidade estética e impacto global, os chineses podem vir requerer sua longa trajetória e também sua tradição em cerâmica. Esta por sua vez, foi valorizada inicialmente no extremo oriente como em outros locais por sua utilidade e acessibilidade relativa conforme constam em relatos históricos.


segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Origem das mesas para bonsai

A história do mobiliário chinês foi remontada por historiadores a partir de xilogravuras encontradas em escavações arqueológicas. Muitas dessas gravações em relevo continham o ancestral chinês ajoelhado ou sentado com as pernas cruzadas sobre esteiras rodeadas por várias mesas baixas. Incluíam-se nesse cenário também algumas pinturas (telas), pergaminhos e outros descansadores para os braços, as pernas e suportes para diversos utensílios. Outros exemplos de mobiliário foram encontrados em escavações que datavam do antigo reino de Chu, cerca do ano 500 antes de Cristo. Alguns deles eram decorados com padrões únicos em laca colorida e esculpidos em alto relevo á mão livre. Esses achados revelam o nível cultural do mobiliário daquela época, onde predominava a estética minimalista. Concomitantemente a fusão da forma prática e funcional se transformava em trabalhos artísticos únicos e se torna o principal condutor de toda concepção histórica do mobiliário chinês.



Registros que datam de 206 AC a 220 DC durante a dinastia Han indicam que inicialmente eram utilizadas plataformas baixas, chamadas de “ta” em cerimoniais de sacrifício pelos dignitários religiosos da época.


Posteriormente apareceram as plataformas que eram usadas tanto para sentar como para reclinar e estas serviram como exemplo na fabricação de mesas mais altas utilizadas durante as refeições diárias.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/27/Gu_Kaizhi_345.jpg

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6e/Song_Dynasty_Elegant_Party.JPG

Já no segundo século depois de Cristo, com a influência do Budismo, percebe-se que as cadeiras e as plataformas ficaram mais elaboradas. Mas foi durante a dinastia do norte e do sul (386 a 586 DC), que começaram a aparecer com mais freqüência bancos mais altos feitos em rattan.


A partir da dinastia Tang (618 a 907 DC) essas plataformas e também as cadeiras se tornaram comum entre a elite de acordo com pinturas da época. Cenas encontradas em pinturas do período dos Song do Norte e do Sul (960 a 1279), bem como mais achados arqueológicos ajudaram a remontar todo cenário deste período, onde o mobiliário chinês já era comumente usado em todos os círculos da vida. Diversas cadeiras, mesas e bancadas foram amplamente utilizados nesta época. Muitos padrões básicos estabelecidos durante as dinastias Song continuaram amadurecer ao longo de todo o período Yuan e Ming. Mais tarde, durante os primeiros períodos de Ming e Qing móveis de estilo clássico foram produzidos em abundância utilizando-se madeiras mais duráveis. Após a queda da dinastia Ming, por volta do ano de 1644, a China novamente floresce em todos os âmbitos.



Este tipo mobília acima chamada de estante dos tesouros ou “Duobaoge” foi concebida durante a Dinastia Qing e era utilizada para exibir preciosos trabalhos artísticos. As Duobaoge eram fabricadas de diversas formas dentro da mesma concepção e poderia ter apenas a simples função de decoração. Até hoje são consideradas pelos especialistas como o trabalho de marcenaria de mais representatividade do mobiliário no período Qing.

As mesas altas para expor flores, chamadas na China de “huaji” ou “huatai” aparecem logo no início do período Qing. Muitos acreditam que elas somente constam nas pinturas chinesas da época com intuito de representar esse tipo de trabalhos em marcenaria no período.


Embora no início da dinastia Qing os marceneiros geralmente seguissem os padrões clássicos, houve uma tendência para o refinamento correlacionando-se com que se permearam todas as artes decorativas que vemos hoje. A imagem abaixo mostra duas mesas idênticas que foram concebidas provavelmente no início do século 20.


Por fim, todas as mesas descritas anteriormente têm sua importância histórica e servem como inspiração na fabricação de novos modelos de mesas em todo mundo. Também com certeza foram as percussoras na exibição dos primeiros trabalhos com bonsai.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Cicatrizante a base de cera de abelhas


Foi de uma simples observação que este cicatrizante natural surgiu. Ao me ausentar durante alguns dias da minha residência, o enxame de abelha jataí (Tetragonisca angustula), que tinha em casa, foi atacado por formigas. Quando retornei, ao observar o enxame, constatei que as abelhas tinham abandonado a colméia, fugindo para a mata local. Por mera curiosidade, abri a caixa de madeira onde estavam as jataís, para ver o que tinha acontecido com a colméia. Ao abrir a caixa, percebi que o mel na sua grande maioria não existia mais e que tinham dois tipos de ceras, uma de cor escura que laqueava o enxame e outra de cor clara, que era propriamente a colméia na sua parte mais interna. Ao colocar nas mãos constatei que estas ceras eram bem “liguentas” e de uma plasticidade incrível. Foi daí que resolvi experimentar como pasta cicatrizante nos meus bonsai. Como a quantidade extraída desta caixa era bem pequena resolvi acrescentar com um pouco mais de cera de abelha comum (Apis mellifera), com a intenção de aumentar o rendimento do cicatrizante. Esta primeira composição idealizada apresentou alguns problemas como enrijecimento e perda da plasticidade. Sabendo que a cera de da abelha jataí é bem mais elástica do que a de abelha comum, foram ajustados os componentes tornando o rendimento deste cicatrizante muito bom. A mesma é utilizada por mim até hoje, conforme procedimentos descritos no próximo parágrafo. Cabe ressaltar que a cera de Apis mellifera assim com a de Tetragonisca angustula é reconhecida por suas características terapêuticas, qualidades essas que irão intensificar a cicatrização dos cortes realizados durante os trabalhos de modelagem com bonsai, bem como outras áreas lesionadas.
Juntar partes iguais de cera da abelha Jataí e cera de abelha comum numa lata. Aquecer em banho-maria até que haja fusão desses dois componentes. Após disto, acrescentar uma parte de glicerina líquida e mexer. Depois que estiver bem homogêneo transferir para moldes feitos em papel vegetal. Deixar esfriar. Após resfriamento total retirar dos moldes separando manualmente as duas tonalidades de ceras, a clara da escura. Essa diferença de tonalidade ocorreu devido a existirem dois tipos de cera na solução, uma impura de cor escura que decantou com a ajuda da glicerina e a outra de cor mais clara que é a mais pura. É uma forma química de separação destes componentes. A cera escura só pode ser utilizada na cicatrização da parte aérea, que é a copa da planta, pois uma vez que esta é mais impura exposta ao sol não trará problemas. Já a cera de tonalidade mais clara pode ser utilizada tanto na parte aérea quanto na parte radicular da planta. Fazendo assim, ajudará consideravelmente na recuperação das raízes, após cortes realizados durante os trabalhos de modelagem do bonsai. Também pode se fazer uma aproximação colorimétrica da cera com a planta em questão, juntando as partes a gosto, consegue-se tonalidades mais próximas do exemplar a ser trabalhado. Com isso conseguimos camuflar mais os cortes, criando uma estética melhor no bonsai.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Dendrocronologia


É um método científico para estabelecer a idade de uma árvore, baseado nos padrões dos anéis em seu tronco. É estabelecida de acordo com o clima das épocas e, por isso, torna-se um grande método de datação absoluta dos climas passados. Esta técnica foi inventada e desenvolvida por Andrew Ellicott Douglass, fundador do laboratório Tree-Ring Research da Universidade do Arizona.
Uma das técnicas para datação é cortarmos transversalmente um pedaço do tronco ou galho de uma árvore, para que assim possamos ver o conjunto desses anéis, que são de tons claros e escuros, formando uma seqüência. Em seguida, a amostra tem que ser lixada para que assim consigamos retirar imperfeições deixadas pelo corte, tornando-a bem lisa, o que torna mais fácil a interpretação dos anéis de crescimento. Feito isso, posteriormente fotografamos essa amostra e depois editamos as imagens no computador com o intuito de investigar os anéis contidos na mesma. A seqüência de fotos acima são modificações geradas por computação gráfica de uma amostra de pinheiro negro semeado há mais de 60 anos. Foram feitos diversos contrastes nas imagens utilizando recursos do programa de computador Adobe Photoshop 7.0. Uma vez de posse das imagens digitalizadas foi possível fazer a sobreposição destas, com o intuito de se preencher lacunas das áreas de baixa interpretação cronológica. Ou seja, determinadas áreas onde se tinha dúvidas nas linhas de baixa e alta densidade desses anéis, uma vez que a amostra analisada sofreu diversas interferências humanas como rotação, adubação, rega e etc. Essas interferências modificam fisicamente as estruturas desses anéis de crescimento.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Casuarina equisetifolia




Foto Wagner Guedes


As Casuarinas foram introduzidas já faz um bom tempo ao belo cenário de Itacoatiara e estão por toda a orla da praia, se estendendo aos costões rochosos. Esta espécie veio da Austrália e se desenvolve em locais incríveis próximo ao mar. Em alguns trechos tornam-se dominantes, devido à espessa camada de folhas que caem no local, sufocando o crescimento das espécies nativas. Formando um sombreado denso e uma abundante camada de serrapilheira, com folhas e frutos que cobrem completamente o solo, eliminam a vegetação nativa adaptada às praias. Através das raízes, fixam nitrogênio por simbiose com actinomicetos (ou actinobactérias), sendo capazes de colonizar solos de baixa fertilidade. Uma vez estabelecidas, alteram radicalmente as condições de luz, temperatura e química dos solos. Competem agressivamente com a vegetação nativa e alteram o habitat de diversas espécies da fauna. São de grande resistência aos ventos fortes, crescem até em fissuras nas pedras e adaptam-se com facilidade a vários ambientes, tolerando solos salinos e calcários. A espécie, também conhecida como pinheiro australiano, foi introduzida provavelmente com fins ornamentais, paisagísticos ou para estabilização de dunas em áreas como de Cabo Frio, RJ.

domingo, 17 de agosto de 2008

Ecossistema ameaçado

Foto Marçal Lemos

A foto acima mostra um exemplar de Pithecolobium tortum que resistiu a uma queimada em um loteamento na restinga de Itaipuaçu. A especulação imobiliária tem crescido assustadoramente na região e, somada à falta de fiscalização, vem afetando negativamente esta espécie, além de diversas outras que ainda são desconhecidas pela ciência. A espécie arbórea em questão é nativa, apresenta dispersão irregular e descontínua, ocorrendo geralmente em baixa densidade populacional. Aqui no Brasil é conhecida vulgarmente como tataré, jurema, jacaré, vinhático de espinho e angico branco. A árvore é bastante ornamental, principalmente pela forma da coloração do tronco; é apropriada para trabalhos de bonsai e paisagismo, principalmente para arborização urbana. Presta-se também para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente. Fora do nosso país é conhecida como “brazilian raintree”.